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A importância do trabalho de conscientização do paciente

A importância do trabalho de conscientização do paciente

A informação é sempre o primeiro passo para estimular a prevenção de uma doença. No caso do glaucoma, não é diferente. Inúmeras pessoas convivem com a doença, sem ao menos imaginarem o que está acontecendo em seus olhos. Afinal, grande parte da população brasileira segue a cultura de só procurar o médico diante de algum sintoma. Como sabemos, no caso do glaucoma, esperar o sintoma aparecer é dar margem para que a doença se agrave severamente.

Para fomentar a conscientização sobre esse tema, foi criada, em 1981, a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG). Com o respaldo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, a Sociedade é uma das principais entidades responsáveis por promover ações de incentivo ao diagnóstico e tratamento do glaucoma no Brasil.

Para entender melhor a importância desse trabalho de conscientização, bem como as consequências do glaucoma, a revista Veja Bem conversou com a médica oftalmologista Wilma Lelis Barbosa, presidente da SBG. Confira!

1 | Porque é importante conscientizar a população sobre o glaucoma?

A conscientização do paciente e de seus familiares é fundamental. Muitas pessoas têm dificuldade de entender a gravidade do glaucoma, por causa da ausência de sinais no período inicial da doença. Diante disso, se não houver uma correta orientação quanto aos riscos, o paciente não adere ao tratamento de forma correta, o que pode levar à perda total ou parcial da visão.

Nesse cenário, uma das principais estratégias da SBG é estar sempre disponibilizando informações sobre o assunto. O trabalho da Sociedade é também dar suporte aos médicos oftalmologistas para que eles saibam o que dizer aos pacientes. A Sociedade não só orienta como também compartilha materiais informativos sobre o assunto.

2 | O que muda na vida de uma pessoa após o diagnóstico de glaucoma?

Isso vai depender muito do estágio da doença e de suas causas. Porém, em todos os casos é fundamental que o paciente compreenda a importância de aderir ao tratamento de forma adequada.

Em relação ao tratamento medicamentoso, por exemplo, o paciente deve compreender que a aplicação diária do colírio será algo permanente em seu dia a dia, e que essa rotina não pode ser descumprida de forma alguma. Outro fator fundamental para quem possui o diagnóstico de glaucoma, é a consulta frequente com o oftalmologista, para avaliar o grau de evolução da doença e a resposta ao tratamento.

3 | Quais as principais causas do glaucoma?

O glaucoma pode ter origens variadas. Por exemplo, pessoas que precisam fazer uso de corticoide ou fazem de maneira inadvertida, podem desenvolver o glaucoma secundário. A doença também pode ser originada em trauma/contusão na cabeça, que venha a prejudicar o nervo óptico. Há ainda o glaucoma congênito, no qual as crianças já nascem com o problema, seja no nível primário ou secundário. Porém, a grande maioria dos casos de glaucoma são identificados em idosos, e ocorrem em consequência do avanço da idade.

4 | Como é realizado o diagnóstico?

Diante da ausência de sintomas, na maioria dos casos o diagnóstico do glaucoma acontece no momento da consulta oftalmológica de rotina. A primeira suspeita do problema é identificada através da medição da pressão ocular, procedimento que deve ser feito em qualquer consulta oftalmológica. Porém, nem todos os pacientes com glaucoma apresentam aumento da pressão intraocular. O principal exame para investigar a doença é o que chamamos de exame de fundo de olho, onde o médico irá verificar não só a retina, como também o nervo óptico.

Uma dica importante: pacientes com histórico familiar de glaucoma devem se submeter a essa avaliação ao menos uma vez ao ano, considerando que a herança genética é um dos principais fatores de risco.

5 | Como e por que o glaucoma pode resultar em cegueira?

O nervo óptico é o responsável por levar a informação dos olhos até o cérebro. Nos pacientes com glaucoma, ocorre a atrofia das fibras desse nervo, o que leva à perda dessas informações. As primeiras alterações na visão de quem sofre com glaucoma é a perda gradativa do campo visual. Ou seja, a visão central inicialmente é preservada, possibilitando ao paciente ver coisas que estão na sua frente. Se não tratada corretamente, o quadro evolui e o paciente tem seu campo de visão cada vez mais comprometido. Isso ocorre de forma lenta e progressiva, até resultar na cegueira total. Mas, é importante lembrar que o tratamento – clínico ou cirúrgico – pode impedir a evolução da doença.

Para quem quer saber mais

Entendendo as opções de tratamento

Quando falamos de glaucoma, falamos de um grupo de doenças em que há lesão do nervo óptico. A maioria dos pacientes desconhece a doença e, quando o diagnóstico é feito, muitas pessoas já perderam uma grande parte da visão. Após o diagnóstico de glaucoma é preciso seguir o tratamento indicado (que pode ser clínico ou cirúrgico), a fim de evitar a perda irreparável da visão e manter a qualidade de vida.

De forma geral, os médicos classificam o glaucoma em dois tipos: de ângulo aberto ou de ângulo fechado. No glaucoma de ângulo aberto existem lesões características no nervo óptico e perda gradativa da função visual. Na maioria das vezes, a pressão intraocular elevada está associada à doença.

No glaucoma de ângulo fechado, as lesões no nervo óptico e a perda de visão poderão ocorrer junto com um bloqueio da íris. A doença pode ser dolorosa e exigir cuidados de emergência, mas, frequentemente, a doença é crônica, evolutiva e não apresenta sintomas. Os fatores de risco são: origem racial, aumento da idade, gênero feminino e antecedentes familiares de glaucoma.

Tratamento do Glaucoma de Ângulo Aberto

Diante da classificação do estágio da doença (inicial, médio ou avançado), são determinadas as abordagens do tratamento.

Estágio

Tratamento

Inicial

Medicação

Trabeculoplastia a laser

Média/avançada

Medicação

Trabeculoplastia a laser

Trabeculectomia± MitomicinaC

Implante de tubo (± remoção da catarata e lente intraocular [LIO])

Ciclofotocoagulação (ou crioterapia)

Estágio final (glaucoma refratário)

Medicação

Ciclofotocoagulação (ou crioterapia)

Serviços de reabilitação

* LIO: Lente intraocular

 

Tratamento do Glaucoma de Ângulo Fechado

A causa do fechamento do ângulo irá determinar qual o tratamento clínico a seguir. Dado que o bloqueio da pupila é a causa mais comum, é recomendada a iridotomia a laser como a primeira linha de tratamento para todos os pacientes.

Diagnóstico

Opções cirúrgicas

Ângulo Fechado, Agudo ou Crônico (Bloqueio Pupilar)

Iridotomia a laser

 Iridectomia cirúrgica

Extração do cristalino / LIO ± Trabeculectomia ± Mitomicina C

Ângulo Fechado (Íris em Platô)

Iridotomia a laser

Iridectomia cirúrgica e Iridoplastia a laser

Extração do cristalino / LIO ± Trabeculectomia ± Mitomicina C

* LIO: Lente intraocular

Entendendo cada tratamento:

Medicação: o tratamento do glaucoma com o uso de medicamentos tem como objetivo principal estabilizar a doença, evitando a progressão dos danos por meio da redução da pressão intraocular

Os medicamentos utilizados no tratamento do glaucoma são divididos em quatro classes: betabloqueadores, inibidores da anidrase carbônica, os alfa-agonistas e os análogos de prostaglandinas. Estes medicamentos atuam basicamente na diminuição da produção e/ou na drenagem de líquido ocular. Embora os colírios sejam os mais utilizados, esses medicamentos são encontrados também na forma de comprimidos, que também podem ser prescritos pelo médico quando os colírios não controlam suficientemente a pressão intraocular.

Trabeculoplastia a laser: consiste na aplicação de laser com o propósito de reduzir a pressão intraocular por meio da criação de uma fístula que cria um trajeto da câmara anterior até a conjuntiva de modo a drenar o humor aquoso. É indicada nos olhos com glaucoma de ângulo aberto. Os tipos de laser usados na trabeculectomia podem variar de acordo com o espectro luminoso utilizado, o tempo de exposição, a intensidade, o tamanho da mira e a forma de aplicação (luz pulsada ou contínua).

Trabeculectomia com Mitomicina C: combina a técnica cirúrgica com um fármaco (mitomicina), com objetivo de reduzir a inflamação local, aumentando a eficácia e a funcionalidade do procedimento.

Implante de tubo: são dispositivos compostos por um longo tubo de silicone implantados na câmara anterior. O controle da pressão intraocular está relacionado à capacidade de drenagem do humor aquoso. Os implantes são normalmente indicados diante de problemas com a trabeculectomia.

Ciclofotocoagulação (ou crioterapia): é indicada para olhos com baixa visão e refratários a terapia clínica máxima e/ou outros procedimentos cirúrgicos, além de olhos dolorosos sem percepção luminosa. A ciclocrioterapia ainda é ocasionalmente utilizada, principalmente devido ao menor custo em relação à ciclofotocoagulação. Os procedimentos ciclodestrutivos reduzem a pressão intraocular (PIO) pela diminuição da produção do humor aquoso ao realizar a ablação definitiva dos processos ciliares.

Iridotomia a laser: é um procedimento que consiste em fazer um pequeno orifício na periferia da íris, que serve como um canal de comunicação entre a câmara anterior com a câmara posterior, para igualar a diferença de pressão entre elas, com laser YAG. Este tipo de cirurgia é efetuada quando o ângulo irido-corneano é estreito.

Iridectomia cirúrgica: enquanto a iridotomia é a abertura de orifício na periferia íris (a íris é a estrutura ocular que dá cor ao olho), a iridectomia cirúrgica é a remoção de parte da íris. Tal procedimento geralmente é necessário nos casos de glaucoma agudo.

A evolução contínua da medicina e os investimentos da indústria para o desenvolvimento de medicamentos, cada vez mais avançados, permitiram uma nova chance de manter a visão para pacientes que em um passado não tão longe estivessem fadados à cegueira.

Apesar dos avanços, um desafio persiste: conscientizar os pacientes sobre a importância de seguir rigorosamente o tratamento indicado pelo médico oftalmologista, sob o risco de perder de forma irreparável a visão.

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