Anúncio de colírio sem registro na Anvisa manipula vozes de famosos por IA
Publicado em: Uol Notícias
São falsos os anúncios de um colírio que circulam pelas redes sociais e que usam as imagens dos apresentadores Cid Moreira e Fátima Bernardes. Uma ferramenta de inteligência artificial foi utilizada para manipular as vozes dos famosos. Além disso, o produto não é certificado pela Anvisa.
O que diz o post
"Converse conosco - tratamento seguro e natural", diz o perfil do colírio Cury Vision no Facebook, que descreve o produto como "preparado para melhorar sua forma de enxergar em até 87% de forma 100% natural".
- O anúncio começa com uma voz similar a de Cid Moreira dizendo que o colírio "foi testado e aprovado pela Anvisa" e é "100% natural". A seguir, uma voz parecida com a de Fátima Bernardes afirma que o tratamento "consegue acabar com glaucoma, catarata e até regenera as vistas". Cid reaparece exaltando as "gotas milagrosas" e pede para que os interessados "cliquem no botão abaixo" para iniciar o acompanhamento.
- A peça ainda traz uma suposta notícia da CNN cujo título é "Tratamento conhecido entre os famosos, está virando febre e salvando vidas pelo Brasil. Este suplemento alimentar é capaz de curar qualquer problema ocular de forma 100% natural e segura".
Por que é falso
- Vozes de Cid Moreira e Fátima Bernardes foram manipuladas por IA. O UOL Confere submeteu o vídeo à análise do Hive Moderation, ferramenta especializada em identificar alterações digitais, que apontou 99,9% de possibilidade de o conteúdo ter sido manipulado por inteligência artificial. Cabe ressaltar que Cid Moreira morreu em outubro de 2024.
Imagem: Reprodução
- Produto não é registrado pela Anvisa. Em consulta ao sistema da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o UOL Confere verificou que o Cury Vision não possui registro no órgão regulador, ao contrário do que é dito no anúncio enganoso.
Imagem: Reprodução
- Anvisa incluiu anúncio em rastreamento de produtos irregulares. Em nota ao UOL Confere, a Anvisa disse que "o nome do produto questionado pela reportagem foi incluído na base de dados de rastreamento do projeto piloto Epinet, que tem por objetivo monitorar anúncios de produtos irregulares comercializados na internet (e-commerce)". A agência observou que suplementos alimentares não podem ter finalidade terapêutica ou medicamentosa, devendo conter no rótulo o alerta de que o produto não é um medicamento. "As alegações autorizadas pela Anvisa para uso na rotulagem de suplementos alimentares estão dispostas na Instrução Normativa nº 28/18. Assim, a propaganda desses produtos deve estar de acordo com o que foi aprovado pela Agência, não sendo admitida a veiculação de alegações terapêuticas de cura, tratamento e prevenção de doenças e outros agravos à saúde", explicou a agência ao UOL Confere.
- CNN não mencionou produto. Em uma busca no Google, não há qualquer referência sobre uma suposta notícia veiculada pela CNN sobre o produto oftalmológico em questão.
- Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) emitiu nota de alerta à população. O órgão chamou a atenção dos brasileiros para os falsos anúncios que vendem produtos oftalmológicos sem prescrição médica. "Com o rápido avanço da inteligência artificial, essa vigilância se torna ainda mais importante. A manipulação de imagens é cada vez convincente e todos estamos vulneráveis a ser enganados", disse Wilma Lelis Barboza, presidente do CBO. Ela frisou a importância de seguir as recomendações médicas e verificar o registro do produto Anvisa antes de o paciente realizar qualquer compra.
- Especialista alerta para riscos à saúde. Raissa Moreira, presidente da Associação Maranhense de Oftalmologia, ressaltou que o uso de medicamentos sem certificação da Anvisa pode trazer sérios riscos ao paciente. "Esses produtos podem conter substâncias tóxicas, alergênicas ou irritantes, levando a complicações como infecções, inflamações e alergias, que podem causar lesões oculares de gravidade variada", disse. Ela ainda recomendou consultar o site da Anvisa para verificar o número de registro do produto, além de "desconfiar sempre de imagens de celebridades, mesmo em vídeos, fazendo depoimentos sobre 'curas milagrosas' em poucos dias".
- Orientação a pacientes é a de sempre consultar um médico. Mauro Goldbaum, diretor da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, ressaltou que, em caso de problema ocular, o paciente deve procurar um oftalmologista. "A orientação médica é fundamental para o uso de produtos que possam trazer um benefício à saúde sem expô-la a riscos desnecessários. Informações médicas ou sobre produtos medicinais veiculadas na internet ou redes sociais podem ser manipuladas ou mal interpretadas. Elas podem não ser a melhor indicação para o benefício desejado e seu uso pode ser prejudicial à saúde", explicou.
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